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O BRASIL ÓRFICO


No desencontro americano, a asfixia do imaginar espedaça-se em tradicionalismos ou em utopias, em vanguardas ou em neoclacissismos, nos vetores do ventre ou do cérebro. Porém, pelas costas da asfixia (e da desforra), o Brasil órfico ergue-se como a árvore que sombreia no páramo. O que impressiona mesmo é que isso signifique, em inaudito ademã arcáico, a recuperação da voz "música" (o ofício das Musas), como inteligência acústica, e também o resgate da palavra "poesia", como criação. Ainda mais, ao sentir o corpo humano como instrumento musical policêntrico (o som transforma-se em músculo), esse Brasil ressuda um humor sináptico, sob forma de coreopesia, caldeação de melodias, dança e canto, de palavras e ritmos.


Durante quase um século, o Brasil órfico resultou no desafio para a injusta mediocridade do imaginar escolarizado. Se tivessem conhecido esse Brasil, teria preocupado a Nietzsche a origem da tragédia e a Unamuno teria preocupado o sentimento trágico da vida? Ou a atração órfica teria mostrado que a coreofagia pode ser a solução para o pesadelo do tédio? Mesmo sem esquecer Nicolás Guillén, Aimé Césaire nem a Frankétienne, não é o Brasil órfico a descoberta da maior cultura no sangue desde que García Lorca falou do Duende? É urgente, então, para as Américas, ponderar o Brasil órfico não só como o achado civilizador mais autêntico do século XX, mas também como a semente de inteligência talvez mais opima de um futuro continental. Depois de tudo, o seu bom humor acaricia o anseio do senegalês Cheikh Anta Diop: liberar da aparência racial a nossa percepção do ser humano.

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